NÃO CRUZAREMOS OS BRAÇOS (Outubro 1972)
O assassinato pela PIDE deste estudante numa reunio que decorria numa faculdade de Lisboa levou revolta do povo estudantil que grassou por toda a Universidade. Houve greves s aulas, manifestaes por toda a cidade, distribuio de comunicados populao informando do sucedido e apelando participao em manifestaes que iriam ter lugar no dia do seu funeral, a 14 de Outubro.
Realizaram-se reunies entre as vrias associaes de estudantes, as RIAs, e foram organizadas manifestaes e estratgias para a sua proteo em face da expectvel interveno das foras de represso. E nesse dia, milhares de jovens saram rua repudiando o assassinato e clamando pelo fim do regime ditatorial por ele responsvel. Houve confrontos com as foras policiais que pretendiam calar estas vozes e esconder do resto da populao o brbaro assassinato.
A represso que se seguiu atingiu em primeiro lugar dezenas dos jovens mais ativos no movimento estudantil, em particular os dirigentes associativos de vrias faculdades. Muitas dezenas de mandatos de captura, processos disciplinares e expulses da Universidade, prises e incorporaes compulsivas foram utilizados pelo governo, infelizmente apoiado nas autoridades acadmicas de ento, para alienar a capacidade de organizao do movimento. Para falar da nossa Faculdade, Faculdade de Cincias de Lisboa, de imediato foram sete colegas incorporados compulsivamente no exrcito colonial, mandatos de captura para vrios colaboradores associativos, e vrias outras tentativas de priso.
E no entanto o movimento estudantil no morreu. Apesar da intimidao das medidas repressivas, prevaleceu o destemor para condenar o governo responsvel pelo homicdio de um jovem ativista, a solidariedade para com todos aqueles que foram objeto da represso e que viram de uma maneira ou outra o seu percurso de vida profundamente alterado, a determinao para continuar lutando para que pudesse existir uma alterao radical do mundo em que se vivia.
Este o testemunho que queremos atestar. Para
as pessoas da nossa gerao, a lembrana de um tempo de luta que marcou a
nossa vivncia de ento e porventura a nossa vida. Para os mais novos um
apontamento de experincias de vida num regime anti-democrtico, feroz mas de
todo no invencvel.
Lisboa, 12 Outubro 2022
Gloria Ramalho - Presidente da AEFCL (1972)
Pedro Ferraz de Abreu - Vice-Presidente da AEFCL (1972)
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Cidadãos que lutaram e lutam pela liberdade e democracia, antes e depois do 25 de Abril, indignados com a destruição em curso do estado social e das conquistas de Abril, que defendem o diálogo e colaboração na comunidade da esquerda.